O meu primo foi à missa

 O meu primo foi à missa… 

Lá se convenceu... ou foi convencido... não sei bem, mas uma coisa é certa, passados uns anos sem pôr os pés numa igreja, decidiu juntar-se à comunidade dos fiéis. 
Entrámos e logo deparei-me com um casal que era de outra paróquia, achei estranho. Será que estão zangados com o pároco? Não seria de estranhar, eles não são fáceis de aturar. 

O meu primo sentou-se em silêncio... 
O coro estava a ensaiar os cânticos, péssimas escolhas, esta mania de cantar no tom original nunca resulta, devem pensar que são o grupo coral de Fátima. Soprano? Tenor? O que era bom era estarem afinados. 

O meu primo levantou-se ao iniciar a procissão de entrada… 
Estão dois acólitos, nada mau nesta altura em que a imagem dos catequistas, os acólitos são espécie rara. Um jovem chega atrasado na igreja sem folego e de calções. Deve pensar que está numa maratona quando devia era comprar umas calças e um relógio. 

O meu primo nem olha para trás e mantém-se sereno… 
O Sacerdote dá umas palavras de saudação e até faz meia piadinha. Nem comento, como se isso fosse local para piadas. Ele está junto do altar do sacrifício maior, haja respeito. Lêem-se as leituras, sentamo-nos, sem antes reparar que o salmista está demasiado perto do ambão quando ainda não foi lida a primeira leitura. 

O meu primo escuta com toda a atenção… 
Proclama-se o Evangelho e o Padre engasgou-se duas vezes, é pena. A palavra de Deus merece outro nível, outra perfeição. A homilia é facilmente esquecível, ideias habituais, nada de novo e na verdade há quem explique isso muito melhor. 

O meu primo escuta com toda a atenção… 
Depois de um credo rezado de forma muito pouco harmoniosa, um santo cantado ao jeito de galinhas à solta com o povo cantando até com mais qualidade que o coro. Chega a altura da Consagração e como sempre, a confusão dos bancos que são tão desconfortáveis na parte de trás para o joelhos. 

O meu primo solta uma lágrima… 
Chorar? Agora? Olha-me esse! E vou comungar entre encontrões habituais de idosos apressados. 

O meu primo fica sentado a rezar… 
Acaba a Eucaristia. 

O meu primo sai com um sorriso de alegria e esperança… 
Pergunto-lhe porque chorou? Responde-me: “Porque Jesus estava ali por mim, por nós. E tenho de ir ao seu encontro!” 
Pois, o altar do sacrifício em que Cristo se oferece novamente para a nossa Salvação, a sua presença real, substancial... será que perdi tudo o que Ele tinha para me dar? 

O meu primo foi à missa… mas eu não sei se fui...


Anthony Nascimento
in, Revista Ação Missionária, Novembro 2023, ano 83, nº961, Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, pag. 19.


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